Energia e Mobilidade
O fracasso da "modernização" da Linha da Beira Alta
Data
01
Agosto
2025
Autor
Autor:
GEOTA

O GEOTA manifesta a sua profunda preocupação com a intervenção na Linha da Beira Alta, e em geral a execução do programa Ferrovia 2020. A modernização da Linha da Beira Alta, fundamental para o desenvolvimento do interior e para a competitividade do transporte ferroviário internacional, tem sido marcada por mau planeamento, atrasos constantes e incapacidade para responder às necessidades. O acto falhado em que se transformou esta obra é paradigmático da orientação errada das políticas de mobilidade e de um sector ferroviário negligenciado. Desde logo, foi um erro focar o programa Ferrovia 2020 essencialmente nas mercadorias: o transporte de passageiros é igualmente importante, tendo em conta o potencial transformador da ferrovia nas vertentes social, ambiental e económica.

Na Linha da Beira Alta, nem o objectivo restrito das mercadorias será cumprido (muito menos um serviço de qualidade para passageiros), pois a intervenção foi limitada à manutenção da infra-estrutura. O projecto sofre de deficiências profundas: mantiveram-se inclinações elevadas que inviabilizam a rentabilidade dos comboios de 750 m; o gabarito adoptado não permite o transporte de semi-reboques nos comboios, essencial para a operação logística moderna; não foram rectificadas curvas, impossibilitando o aumento de velocidades (mantêm-se as mesmas de há 30 anos); nem se equacionou a hipótese de duplicação da linha. Em resumo, não houve um esforço real para cumprir padrões modernos, seja para passageiros ou mercadorias.

Genericamente, o programa Ferrovia 2020 é um fracasso no que toca a objectivos concretos de serviço às populações, coesão territorial, economia e ambiente. Infelizmente, o Plano Ferroviário Nacional (PFN) e o Programa Nacional de Investimentos (PNI 2030) vão pelo mesmo caminho, priorizando projectos megalómanos sem racionalidade económica (como a alta velocidade Lisboa-Porto), desprezando as necessidades das populações e do tecido económico, e ignorando os padrões internacionais de qualidade de serviço.

É necessária uma auditoria rigorosa ao Ferrovia 2020, com consequências práticas na revisão dos novos planos. Temos de mudar de paradigma: o padrão de serviço é que tem de determinar a infra-estrutura e os meios operacionais, e não o contrário. Precisamos de um verdadeiro planeamento ferroviário, num quadro de mobilidade intermodal, para passageiros e mercadorias, envolvendo de modo colaborativo os operadores, os utentes e a sociedade civil.

O GEOTA defende duas grandes prioridades para o transporte ferroviário de passageiros:

1. Reforçar as redes ferroviárias urbanas e suburbanas, para satisfazer os movimentos pendulares nas áreas metropolitanas num quadro intermodal: o transporte público deve a satisfazer 2/3 dos movimentos pendulares (duplicar o actual 1/3);

2. Criar um serviço intercidades nacional integrado (substituindo os actuais alfa, IC e inter-regional), com horários cadenciados, conjugados para a totalidade da rede, com pelo menos 140 estações servindo 80% da população, incluindo os centros das principais cidades, aeroportos, portos e fronteiras, com alta frequência e fiabilidade. Este modelo serve as necessidades reais do País, e pode ser implementado de imediato, aumentando significativamente a oferta e a qualidade do serviço com os meios de que dispomos.  A médio prazo, propomos como metas a frequência mínima de 1 comboio cada 2 horas nas pontas da rede; ligação Lisboa-Porto em 2 horas com 2 comboios por hora; o resto da rede intercidades deve ser competitiva com o automóvel, devendo ser preparada para a gama "velocidade elevada" (140 a 220 km/h dependendo das linhas). Estas metas devem ser alcançadas progressivamente e com prioridades claras.

O GEOTA defende ainda a aplicação da alta velocidade ferroviária nas ligações internacionais de longa distância (> 500 km).

Em síntese, o GEOTA defende UMA FERROVIA PARA TODOS, capaz de reduzir a poluição e o congestionamento das nossas estradas e cidades e servir a coesão territorial, permitindo uma mobilidade mais sustentável, eficiente e a baixo custo.

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